O cliente nem bem sentou e já foi vomitando a situação da empresa. Falava em salvamento e em uma ação de impacto que precisávamos criar por que, do contrário, em um ano ele fechava as portas. Curso de Inglês é foda. Pras classes C e D pior ainda. Que fazer? Escutar.
Fui apresentado como redator e diretor de arte, assim mesmo, com letra minúscula pra não enfatizar muito. O cara, na medida em que falava ia me fazendo anotar idéias doidas no bloco de papel. Brainstorm. Brandingstorm pensei. Branding.
Era óbvio que a empresa dele tava doente. Precisava urgente de "profilaxia". Modéstia a parte eu tenho "propedêutica". Essa empresa precisa de pesquisa. Daqui da reunião não sai nada. Youtube, Globo, sites brasileiros e americanos e me veio à cabeça a idéia da Apple. Think different. Curso de inglês não é palpável, concreto. O que fazer? Mostrar o que? Pensar diferente? Lembrei também do Stalimir e do Washington. "Precisamos evoluir para a década de oitenta."
Um dia inteiro pesquisando e terminando quatro anúncios de homenagem da cidade. A cidade nem merecia tanta atenção. Ou merecia? Da parte do município sim. Eu só tinha de vender quatro conceitos. Alma lavada. Dois dias e os quatro anúncios foram criados. Passa pro cliente através do atendimento. O atendimento, da porta mesmo diz que não gostou de dois. Sabe Deus que critério ele utilizou pra dizer isso. Me arrisco e pergunto. Ele achou que faltou alguma coisa. Faltou eu me matar, reclamei. Pááá. A idéia chegou. Bendito atendimento. Nem sabe o presente que me deu. Três anúncios e uma peça de mobiliário urbano pra começar a exposição da idéia pro Diretor de Criação. Ele pirou o cabeção. Alterou pouca coisa. É bom ter mais olhos pra observar o que os nossos não vêem. Olhos profissionais e leigos. Um par de cada.
Reunião no mesmo dia com o cliente deseperado. A idéia ficou redondinha. Enxuta. O cliente chegou. Café e bolo pra sala de reunião. O cliente está com duas pizzas de água debaixo dos braços. Calor assim significa duas coisas. Ou era nervosismo ou o ar condicionado do carro tava com defeito.
A mini campanha foi apresentada. Branding puro. Ficaria nas ruas durante dois meses. Tratamento eficaz pra morimbundo tem que ser assim. A longo prazo. A gente não cura o câncer com apenas uma sessão de químioterapia.
O cliente esperou a gente terminar e já foi dizendo que não pagava a criação. Perdemos as pernas. Fiquei anestesiado. Como assim? "Quero ficar bom da doença, mas não quero pagar os remédios". Discussão. Saio da sala e deixo a parte constrangedora rolar. Falar de dinheiro é sempre constrangedor pra mim. Vou pra sala de criação esperar. Meia hora depois o cliente dá tchau a todos e aperta minha mão parabenizando pela idéia. Campanha Aprovada. Não acreditei. Algumas alterações é claro, mas a idéia estava lá.
O atendimento, o qual fora aprovar os aniversários da cidade, acaba de entrar na sala e avisa que dos quatro anúncios só um foi aprovado, mas que precisavamos pensar numa segunda opção porque o cliente achava que estava faltando alguma coisa relacionada ao produto, "tipo uma foto". Perguntei se era um dos dois que ele questionou antes de sair. A resposta foi não. Mas que diferença isso fazia?
4 comentários:
Viu? Muito texto. haaha.
Mas gostei. Adorei a parte "Ele achou que faltou alguma coisa. Faltou eu me matar, reclamei. Pááá."
Gosto de texto rápido assim e com essa pontuação a la Edyr Augusto Proença.
Legal.
Caráio véi. Tu queimaste teu cliente, tua agência e teu filme num post imeeeenso. Se tu foste apresentado como redator com letra minúscula é porque deve ser mesmo. Na boa. Só li até o final porque queria muito te ver te superando. Parabéns.
Caráio anôimu. Tu naum sacassi qui a inscrivinhaçãum é di mintira? KAraCAz :( !!!!
Pode até ser tudo 'di mintira', mas que tu és um redator com caixa baixa, lá se lê. Acredito que te saias melhor com a direção de arte. Ou isso também foi 'di mintira'?!
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